Trump anuncia tarifas de 25% sobre carros importados: impactos e reações globais
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quarta-feira, 26, uma nova tarifa de 25% sobre automóveis importados com o objetivo de incentivar empresas a instalarem mais fábricas em território americano. A medida entrará em vigor em 3 de abril.

Detalhes da nova tarifa automotiva nos EUA
A tarifa será aplicada a veículos como sedãs, utilitários esportivos, crossovers, minivans, vans de carga, caminhões leves e peças automotivas essenciais como motores, transmissões, componentes elétricos e peças de trem de força. Estas tarifas serão adicionais às taxas já existentes de aproximadamente 2,5%, totalizando uma tributação de 27,5%.
Para veículos elétricos chineses, que já tinham tarifa de 100% desde agosto, a taxação será ampliada para 125%. Entretanto, automóveis montados no México ou Canadá pagarão apenas 25% sobre peças importadas não originárias dos Estados Unidos.
Trump justificou:
“Vamos cobrar os países por fazer negócios em nosso país, tomar nossos empregos, tomar nossa riqueza.”

Impactos das tarifas automotivas no mercado global
Analistas projetam que as novas tarifas devem causar aumentos significativos nos preços de automóveis importados nos EUA, reduzir vendas e impactar cadeias produtivas globais, especialmente nos setores de semicondutores e aço. Os efeitos econômicos negativos poderão também afetar diretamente consumidores americanos através da inflação.
O impacto imediato das tarifas impostas por Trump
Na manhã de quinta-feira (27), as ações da maioria das empresas do setor operaram em queda. Nos Estados Unidos, as ações da General Motors caíram 6,2% e da Ford, 4,7%. A Stellantis, marca que controla Ram, Jeep, Chrysler e outras, caiu 6,4%, a Mercedes-Benz perdeu 5,5%, a BMW caiu 3,9% e a Porsche caiu 4,2%, enquanto a Volvo Cars e a fabricante de autopeças Continental caíram cerca de 2,5% cada. O efeito é registrado também em outros países. As ações da Toyota, a montadora que mais vende veículos no mundo, caíram 3,7% no início do pregão em Tóquio, enquanto a Nissan perdeu 3,2% e a Honda, 3,1%. Na Coreia do Sul, as ações da Hyundai caíram 3,4%.
Os efeitos da nova tarifa no mercado brasileiro
O Brasil não exporta carros prontos para os Estados Unidos — o que significa que o país não deve sentir os impactos diretos das tarifas de importação anunciadas por Trump —, mas pode acabar recebendo o excedente da produção dos países que exportam.
Outro ponto é o impacto que o mercado de autopeças brasileiro pode sofrer caso Trump decida estender as taxas de importação para esse segmento.
Na última quarta-feira (26), o republicano adiou em até um mês a cobrança de autopeças importadas. Ele determinou que essas peças estarão sujeitas às taxas em uma data a ser especificada em aviso do Registro Federal.
Como o Brasil é grande exportador de autopeças para os EUA, a medida poderá gerar uma crise dos fornecedores locais. Dessa forma, as consequências para a indústria nacional podem incluir produção ociosa, desemprego e até o fechamento de empresas.

Segundo o presidente da Volvo Car Brasil, Marcelo Godoy, em entrevista exclusiva concedida à Rádio Antena 1 na quarta-feira (26) – antes do anúncio do presidente americano – o aumento de tarifas é uma política desgastada e não deve se sustentar no médio/longo prazo.
“…todo mundo tem a perder. Eu acho que essa nova matriz econômica, os Estados Unidos buscam uma reindustrialização. Eu acho que é notória essa questão de vamos produzir mais no país e ser menos dependente de importações de outros mercados. Só que isso nos Estados Unidos demora tempo. Hoje, por exemplo, o dólar está a um valor super alto. Se você produz nos Estados Unidos para exportar, fica um pouco mais complicado. Então acho que essa questão do governo americano a longo prazo, essa é a ideia.”
Sobre os efeitos na Europa, o executivo acredita que o resultado pode ser positivo para o continente:
“…eu acho que a Europa vai se fortalecer nesses próximos anos. Serão obrigados a se adequar. Sabe aquela história, inimigo do meu inimigo? Então agora eles vão se juntar para fazer o continente forte. Porque se você olhar na equação global, China, Estados Unidos e Europa, você teria as duas forças aqui e a Europa está ficando um pouco para trás. Eles receberam isso e agora eles vão voltar a reinvestir e industrializar também. O grande motor da Europa é a Alemanha. A gente sabe o que a Alemanha vinha passando.”
Sobre os efeitos desse novo panorama econômico global no Brasil, Godoy está confiante:
“Eu sou muito confiante que se o Brasil, eu sempre falo isso, fizer um pouco o dever de casa com relações a parte fiscal, as contas, a gente vai atrair muito investimento. Se uma pequena fração desses investimentos entre Estados Unidos, China e Europa, vier para o Brasil, a gente consegue ter um PIB de 2, 3% a médio lucro. O grande problema do Brasil não é o PIB real, é o PIB potencial. Hoje o PIB potencial do Brasil está em 2%. Se o Brasil cresce acima disso, já é inflação. Então a gente precisa aumentar o PIB potencial. Infraestrutura, educação, qualidade dos produtos e eficiência. Então eu acho que se o Brasil fizer a parte fiscal, seja qual o governo for, eu acho que a gente atrai muito capital e aí sim a gente gera emprego e cresce a economia.”
Veja essa entrevista completa do presidente da Volvo Car Brasil, em breve, no canal da Rádio Antena 1 no YouTube.
Reações internacionais às tarifas automotivas americanas
A decisão gerou repercussão negativa em vários países, com respostas duras e promessas de retaliação.
Alemanha
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, pediu uma resposta firme da União Europeia, declarando:
“Deve ficar claro que não nos dobraremos perante os Estados Unidos.”

Canadá
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, classificou a medida como um “ataque direto”, anunciando um fundo estratégico de US$ 1,4 bilhão para proteger empregos na indústria automotiva canadense, que emprega diretamente 125 mil pessoas:
“Defenderemos nossos trabalhadores, nossas empresas, nosso país.”
Coreia do Sul
A Coreia do Sul convocou uma reunião emergencial para discutir consequências econômicas. Em 2024, o país exportou US$ 34,7 bilhões em automóveis aos EUA. A Hyundai já anunciou investimentos de US$ 21 bilhões nos EUA em resposta às tarifas.
França
O ministro francês da Economia, Éric Lombard, chamou as tarifas de uma “muito má notícia”, afirmando que a União Europeia já prepara tarifas retaliatórias aos produtos americanos.

Japão
O Japão, grande exportador de veículos aos EUA, anunciou que todas as opções estão sendo consideradas. Segundo o primeiro-ministro Shigeru Ishiba:
“Isso terá um impacto significativo na relação econômica Japão-EUA.”
Veículos representam um quinto das exportações japonesas, e os EUA são seu maior mercado comprador.
México
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, afirmou que o país dará uma “resposta abrangente” e buscará um tratamento preferencial dos EUA para minimizar impactos econômicos. O secretário de Economia Marcelo Ebrard reforçou a necessidade dessa negociação especial para proteger empregos.
Reino Unido
Rachel Reeve, ministra britânica das Finanças, expressou preocupação com uma possível guerra comercial e afirmou que o Reino Unido busca negociações com os EUA para evitar impactos econômicos negativos.
“Guerras comerciais não beneficiam ninguém, apenas elevam a inflação e prejudicam exportações.”